bonjour, não sei bem a que horas esse post vai sair enquanto escrevo, mas bonjour. who cares
Esse ano, depois do resultado que eu considerei ótimo da minha aquarela de fogo, eu tive um fracasso derrubador com a minha biblioteca errante do livro infantil. Errei na forma, nos contrastes, eu acho, mas mais na forma e disposição de cores. Quis fazer algo miúdo demais com muito foco quando não era o caso.
Mas a partir daquele momento, passei a considerar cada erro como um estudo. Nomeadamente como estudo.
Então eu encarei aquela coisa que havia nascido de mim (hahaha) e disse: "Você também merece carinho". Minha mãe e o desenho de One Piece me ensinaram que você deve amar suas criações, não importa o que elas sejam ou o que façam. (É a parte da história do Franky que ensina isso.) E sinceramente não há um ensinamento mais verdadeiro. Algumas pessoas sabem disso por instinto, mas algumas pessoas, como eu, precisam se dar conta e aprender isso. A não se odiar e considerar tudo apenas um passo no aprendizado, e que aquelas coisinhas tortas podem se transformar em algo bonito, que aquelas linhas tortas também são seu puro "eu".
Para iniciarmos os nossos estudos *estrala os dedos* ao som de Nosferatu, essa arte do Yoshitaka Amano. Nossos estudos do que eu aprendi, e eu quase considero que estou falando comigo mesma, hahahaha. Quem vai ler isso?
Parem e analisem os contrastes dessa imagem. Eu amo demais essa ilustração.
Tenho vergonha de copiar, de usar como referência, mas um dia eu perco isso. Eu nunca fui de usar referência, nem imagem, mas quando se é profissional *pigarreia* você precisa pegar uma de vez em quando (ou sempre). Mais sobre isso lá pro final.
Acho que está na hora de eu aceitar que nem toda arte ou estilo é tão inovador assim. Eu quero que a minha, particularmente, seja só bonita.
Ele tem um estilo muito, muito próprio. Olhar os contrastes pequeninos, nas folhagens, o quanto ornam com o resto, o foco de luz na menina, e lá atrás da menina o escuro das árvores, e atrás das árvores o claro outra vez. Essa imagem tem um foco de luz e isso atrai a visão. E olha que as cores são bem pálidas.
É isso o que eu aprendi a planejar antes de iniciar algo. Uma das coisas que eu errei (e ainda erro, why not? eu sei em teoria, mas a prática é outra coisa, uma coisa que pode fugir ao controle porque não somos robôs) é que eu colocava muitos elementos em cena depois de que passei a querer incrementar com cenário. Cenários são perigosíssimos. Eles podem comer o foco principal e você vai olhar o resultado e odiar, hahaha. (Mas não odeiem, lembrem da primeira lição.)
Mesmo quando a gente olha o horizonte, as montanhas e montes ao fundo vão sumindo, o céu gera equilíbrio na imagem geral, ele costuma ser mais claro, e se mescla à terra pelo pouco contraste das montanhas, e aqui embaixo em primeiro plano, o resto das coisas.
Eu aprendi a planejar as coisas antes de pôr as mãos na massa. Aprendi a fazer rascunhos antes, eles não são frescura. Faça mesmo vários rascunhos, amadureça a ideia se a sua intenção não é só testar e estudar as cores e composição.
Bora lá pras conclusões que tirei enquanto eu mesma estudava. Eu, infelizmente, nunca peguei num livro de estudo de cores, nada do tipo. Só observação de trabalhos, meus e alheios. E conversas com outros artistas. Acho tão lindo quando a pessoa é embasada ao dizer tudo o que sabe. Eu só tenho eu mesma e isso aqui pode estar tudo cheio de buracos e erros.
Como estou escrevendo até como uma lista para eu mesma lembrar de tudo isso (cabeça de vento), então vou usar meus "acertos" como exemplo, entre aspas porque até eu mesma posso achar algo de errado depois, ou olhos mais treinados que eu verem... Essa conversa toda, eu não quero soar arrogante.
Usar acúmulos de cores afastados (duas ou três cores) e degradê (mesmo em áreas grandes):
Essa é minha última ilustração para mim mesma, onde usei o acúmulo de cor mencionado nas áreas de sangue. Mas vejam, há áreas brancas ao redor, mais claras, e o escuro do cabelo e vermelho moldam o equilíbrio.
Nas áreas pequeninas ao redor do cabelo tem tons claros porque eu fui escurecendo os fios aos poucos. Eu não taquei preto de repente. Eu o fiz louro antes. Experimentei pôr preto rápido demais e não me agradei. Não chega a ser errado, quase nada na arte é errado, mas só se torna um estilo de fato quando você sabe o que está fazendo, e não o faz sem querer ou sem ter a intenção. A menos que você tenha um instinto ótimo, hahaha. Respeito isso também e acho incrível.
Afora isso, estude.
Focar um elemento (para mais, só se tiver certeza):
Olhem a baguncinha que é esse desenho aqui do lado. Esse é um exemplo do que não deu muito certo. Explico: eu imaginava um monte de frascos de perfume, mas eu quis dar atenção e cor a todos eles, e não foquei nada. A imagem no geral não tem um contraste tão bom também, só as pernas maravilhosas do vendedor de essências. Mas eu amo essa ilustração mesmo assim.
Seria melhor eu ter desenhado os frascos, sim, e ter posto cores mais voláteis em todos eles, cores manchadas e desbordando. Ou não ter posto cores, deixado só o contorno. Poderia ter colocado um contraste e uma luz principal nisso, afinal, de onde está vindo a luz nessa ilustração? A parede está clara, a mesa está escura, os frascos estão todos com as mesmas cores.
Outro problema foi eu não ter dado um "fundo", aprendi isso depois. Só deixar branco onde for absolutamente brilho (falando nisso, máscara para aquarela é "o canal" para isso, hahaha). Dar um fundo e limpar com um pano é ótimo pra mim. Molhado sobre molhado em aquarela só funciona se você: a) for um gênio, b) tiver tanta certeza do que você quer que a imagem na sua cabeça está praticamente plasmada, c) tiver uma referência e d) for um baita sortudo.
Eu não sou/tenho nenhuma dessas coisas, então sair pintando e pintando e pintando sem parar pra olhar e secar a pintura não funciona e vai fazer você ficar frustrado, olhando pro nada e murmurando "caguei em tudo". Hoje em dia eu apenas desenharia com calma alguns frascos, outros deixaria só um rabisco mais ou menos (os de fundo, distantes), e colocaria cor e foco só em alguns.
Essas coisas parecem frescura antes de você começar a dar com a cara no muro.
A dica aqui, além das cores, é: tenha muita certeza de com quantos elementos está lidando para colorir. Ou você vai fazer uma salada.
Centralizar e ter equilíbrio na composição:
Essa eu não tenho uma imagem de exemplo aqui nos meus, mas a de cima também conta um pouco. Se trata de não lotar a imagem de coisas até seu olho não saber para onde seguir. Centralizar é de fato centralizar a figura direitinho SE sua intenção for uma composição do tipo, e mais ainda, centralizar seu pensamento para um foco na sua imagem e não fazer que nem eu fiz ali em cima.
Existe a proporção áurea (aqui se você quiser ler sobre e for de exatas, haha). Pessoal fala que matemática está em tudo e isso é verdade.
Mas captando com os olhos (que) é o fato de a imagem estar harmônica e você não se incomodar com ela no final.
Não ajudei muito nessa, então procurei mais por isso para apresentar aqui e achei um video bacaninha. (AQUI)
Testar os tons e as cores:
Essa é bastante relativa (todas são, na verdade). Existe a teoria das cores, e é muito bom ler sobre isso, mas eu particularmente, quando vou pintar, preciso ter um conjuntinho de cores em mente. Explico: eu não me satisfaço facilmente se não uso as cores planejadas, ao mesmo tempo em que eu não monto uma paleta certinha. É, sou difícil, haha. Então um conselho é saber tanto as cores que vai usar, para poder incrementar, e saber os tons disso. Dos meus erros que falei antes, os que mais detestei é os que não tinham os tons corretos (menos ainda uma composição harmônica).
Olha essa quimera aqui do lado. Consegue entender o que raios é isso? Foi a ultima pintura do ano passado, nem faz tanto tempo. O laranja não é tão forte e não fica vivo, o preto o apaga e a fumaça branca foi o toque final para o desastre. Se fosse um acúmulo de cor grande e apenas um, esse seria o fogo, e se destacaria do resto. Seria o correto a ser feito.
Então eu sempre, sempre vou testar os tons com grafite antes, porque se você acertar o contraste, as cores que você usar não serão nem certas nem erradas, mas apenas questão de gosto.
Esmaecer à distância:
Essa aqui talvez não seja a ilustra mais excelente pra ilustrar isso (ba dum tss), mas veja as figuras atrás. Elas não têm detalhes. É mais fácil expressar distância se as coisas atrás estiverem sumindo.
As da frente também.
E daí você foca no que está no meio.
Também há o contraste nessa imagem, fundo branco e roupa preta (bem no simples mesmo, haha), e poucos detalhes, só nas vestes. Ele está para a esquerda da folha e isso indica bastante solidão (mentira, só acabei de ouvir isso, nunca tinha nem cogitado).
Detalhe: fiz essa imagem sem querer. Foi um dos casos de sorte e inspiração. Mais inspiração de fora mesmo, porque né, sorte sooooorte não existe.
Simplicidade rules.
A última dica, sem imagem de referência.
Se você tem dúvida sobre elementos, estude. Se não quiser ter dor de cabeça estudando, bem... por que está pintando? Sempre haverá estudo. Frequentemente. Nunca vai parar e aprenderá todos os dias algo novo, e quando for velhinho continuará aprendendo com as coisas mais simples ao observar e ter um baque. Meu professor de direção disse que quando você está enfiado e estudando alguma coisa, qualquer coisa que você será objeto de estudo de alguma forma. (Ele disse isso quando estávamos estudando placas de trânsito no manual, e bem, a gente olhava para as placas na rua e estudava "automaticamente", haha.)
Sabe seu estilo? Ele nunca estará pronto, você é artista e a vontade de mudar estará com você como uma pulga. Você vai se aprimorar e uma coisa raramente sairá como outra.
Tem gente que consegue? Pode até ser, mas não considere que você seja uma dessas pessoas porque elas provavelmente não se consideram assim, tão prontas, tão firmes.
O melhor para o seu entendimento é que você se considere um ser mutável e transitório, assim como seu estilo.
Eu estava agora mesmo, na reedição desse artigo, vendo uma entrevista curtinha com o Amano (já mencionado ali), e ele deu duas dicas para os novatos: tenha originalidade e se divirta.
Eu interpretei assim: a diversão faz parte do seu amor pelo que você faz. Artistas parecem seres incapazes de fazer o que não gosta, principalmente geminiano, hahahaha. Mas agora sério, é o que dizem de amar o que faz. Só não achem que por isso a gente não vai ter dor de cabeça, vamos sim.
E originalidade, acho que essa palavra engloba bem mais que o "estilo" ali em cima. Estilo, ao que eu entendo (não sei se entendem diferente) é o jeito do traçado, e resume-se a isso. Nossa, qual o meu estilo? Mangá? Cartoon? Cubismo? ArtNoveau? (que)
Achar um estilo é complicado e eu não acho que seja algo com o que você vai ter que se preocupar e trincar os dentes pensando nisso. É algo natural, vem com o tempo e sem que você busque. É uma mescla, provavelmente, das coisas que você ama, seja o estilo de outro artista, ou algum movimento artístico de época, e uma mescla do que vem do seu coraçãozinho.
Então a palavra Originalidade. Pra mim engloba um conjunto de ideias expressas, não só o estilo que veio até você e que é mutável. Você é um artista que quer expressar o quê? Amor? Ódio? Problemas íntimos? Uma vida? Isso é mutável também.
Achar a Originalidade ou o estilo me soa sempre algo que vem com o tempo enquanto você não busca nenhuma dessas coisas. É aquilo que você não quer fazer de propósito, na marra, mas que vai sair daquele jeito mesmo assim, depois de você ter feito toda a rota em busca de um estilo. É o que sai de você mais intrínseco conforme praticar (por isso é legal rascunhar à caneta). Quando eu estava tentando achar um, eu sofria horrores tentando ser realista, mas começou a ficar moroso e eu comecei a me sentir acoada.
Sério, até mesmo o meio pelo qual você faz a arte vai definir algo no seu estilo ou a maneira que as pessoas vão se lembrar da sua arte. Um resultado em tinta óleo é diferente dele em aquarela (o primeiro me parece mais fácil, ou eu que fiquei traumatizada hahahaha).
Então são coisas pelas quais eu já fiquei "bitolada" procurando, estilo, originalidade. Até que abracei o mangá como meu "estilo", o que eu sempre gostei de verdade. E dentro do mangá tem tantos estilos também, haha. Não é que você não possa procurar, eu só acho, euzinha, que é algo que vem com o tempo mais facilmente conforme você vai ilustrando o mundo à sua maneira (mesmo que um mundo imaginário). Não é algo que você tenha que ficar ali, recurvado sobre o papel, falando pra si mesmo que vai fazer sempre daquele determinado jeito e pronto, sendo que muitas vezes isso não vai ser divertido.
Gostei muito de ouvir aquelas palavrinhas e precisei vir aqui complementar antes que o artigo fosse publicado no blog. Cada pessoa sente diferente demais e nenhuma resolução é idêntica.
E outra coisa: por favor, não sejam como eu, não sejam muquiranas que não usam referência quando precisam. Usar referência não é vergonha, não é demérito. A menos que você faça realismo fotográfico, não vai ficar igual não, nem que você queira, na maioria das vezes. Há vários jeitos de usar referência de foto, de outros estilos, o negócio é ir fazendo que nem uma jamanta desgovernada /não.
Até quando você fizer ilustração para os outros o seu estilo vai (e tem) que transparecer.
So, a sua arte tem que agradar você.
Achar uma linha para o que estão te criticando à toa e as críticas construtivas que vão te moldar à marretadas é difícil. Não é todo dia que a gente quer ouvir que estamos errados e nosso trabalho está uma porcaria. Mas a gente vai ter que ouvir isso sim.
Ouvi gente dizer que Yoshitaka Amano estragou Final Fantasy com as ilustrações dele e quis voar no pescoço de alguém, pffff, você acha que você não vai ouvir nada?
Outro dia me disseram, num bom sentido, que eu era caótica, e eu me lembrei disso esses dias e pensei "meu Deus, isso é verdade", meu "estilo" é todinho isso. Tentando achar um equilíbrio sempre e falhando algumas vezes e saindo feliz noutras. Meus traços são tortinhos, falhados, sujos. Eu não uso régua para nada, nem linhas. Meus rabiscos são rabiscos, o grafite não some quando eu aquarelo por cima, pelo contrário, quero mais é que ele esteja ali. Lineart? Eu rio na cara das linearts porque eu não sei fazer um traço tão polido assim.
Isso é um hoje.
Acho que eu sofreria tanto com vetor.
Outra vez, nada é definitivo quando se está pintando, dado ser algo que se altera conforme os sentimentos. Você pode ter um resultado em uma pintura que contradiga noventa por cento do que eu disse aqui e ainda gostar dela, e me apresentar isso e eu gostar disso. E então você pode tentar fazer de novo um resultado semelhante e querer se defenestrar.
Mas respira fundo e continua pintando, estamos nessa por essa emoção.
*desliga o botão de autoajuda*
Sabe a ironia desse título? Você vai sofrer, pois é algo sem fórmulas. Estudar deixa as coisas mais fáceis em alguns sentidos e muito mais difíceis em outros, porque você vai passar a prestar atenção.
Só nunca abandonem a vozinha no coração que te indica por onde ir.
Qualquer erro grotesco aqui, me digam, e qualquer coisa que precisem de ajuda, me digam também.
Eu amo falar sobre essas coisas, de verdade mesmo.
Futuramente talvez eu adicione mais coisas, eu estarei sempre aprendendo e sempre compartilhando isso aqui. Essas coisas podem não ser nada novas para pintores experientes, e podem ser super inéditas para outros. Só é legal falar.